Fica o orgulho de poder partilhar com todos as suas opiniões e histórias de quem sempre me encaminhou na vida, com o sorriso que só ela sabe ter...
A minha MÃE na primeira pessoa...
Mélissa: Desde que me lembro, tenho uma paixão muito grande pela bola. Queres relembrar-me quando e como é que surgiu esta minha paixão?
Mãe: É verdade, desde muito cedo que ganhaste uma grande amiga, a bola. Recordo-me que na altura o futebol passava despercebido no Canadá, onde vivíamos. Quando chegamos a Portugal ouvia-se e via-se futebol em cada esquina e não tardou muito até demonstrares que tinhas uma capacidade acima da média para jogar futebol. Tinhas cerca de 4 anos e andavas no colégio e logo no primeiro intervalo foste jogar para o ringue e chamaste de imediato a atenção das tuas educadoras, pela tua enorme habilidade. Os intervalos sucederam-se e a paixão foi crescendo, até aos dias de hoje.
Mélissa: Apesar de tudo, sempre me deixaste praticar futsal/futebol, apoiando-me incondicionalmente. Sentias necessidade de me apoiar?
Mãe: Na verdade, inicialmente, não te incentivei muito e não me agradava a ideia de jogares como federada. Tinha receio por diversos motivos. Essencialmente pelos estudos. Poderias cair na ilusão dos comentários e no próprio ambiente do futebol, porque sabia o quanto te fascinava. Só não sabia que ias ter a devida maturidade para dar a devida importância a cada coisa. Surpreendeste-me imenso quando as pequenas responsabilidades começaram a surgir. E agora, sou como o teu pai, apoio-te a 100%, porque percebi que lutas por aquilo que acreditas.
Mélissa: Durante vários anos fiz a minha formação, enquanto jogadora, em equipas masculinas. Não te fazia confusão que a tua filha fosse a única menina entre os rapazes?
Mãe: Fazia um pouco. Não pelos motivos aparentemente mais lógicos, porque em toda a tua adolescência tiveste amigos. Estavas sempre no meio deles e como tal já estava habituada. O que mais receava era que te magoasses devido à diferença física.
Mélissa: Adoro ver-te na bancada, porque me transmites muita segurança. O que sentes quando me vês jogar?
Mãe: São diversos os sentimentos que sinto à flor da pele, mas acima de tudo sinto orgulho.
Mélissa: E o que significa ver a filha representar o país?
Mãe: O sentimento principal repete-se. É tanto orgulho que apetece gritas da bancada que é minha filha. Quem é mãe sabe como é e sente, pois um filho é algo que cresce e nasce de dentro de nós.
Mélissa: Eu sei que para ti sou a melhor jogadora do mundo (risos), mas gostava que me caracterizasses enquanto pessoa...
Mãe: Ao contrário do que todos pensam, a Mélissa é uma pessoa muito mimada a nível sentimental. Procura sempre a mão e o aconchego daqueles de quem gosta para que tenha a força de guerreira no seu quotidiano. É, sem dúvida, muito lutadora, fria e calculista nos devidos momentos. Luta até ao fim por aquilo que quer. Juntamente com isto atribuo-lhe o maior de todos os defeitos, que nasce na consequência da sua forma de lutar... gosta de ser justa e não consegue dar sem receber em troca...
Mélissa: É junto de ti que passo a minha vida e conheces-me melhor que ninguém. Lanço-te o desafio de partilhares algumas histórias que mostrem a minha forma de ser e estar perante a vida.
Mãe: Como já referi, lutas até ao fim por aquilo que queres e gostas que a vida seja levada de forma justa e retribuída. Um exemplo vivo disso é a caricata situação que viveste com a tua avó. Recordo-me que passaste o dia a pedir-lhe que te levasse para o jardim para poderes jogar à bola. Fizeste mil e uma tarefas domésticas, para que pudesses ser recompensada. Como ela andava sem paciência e muito cansada, optou por te dizer que já era tarde e encaminhou-se para o sofá. Tu, apesar de só teres 4 anos, tiveste noção da injustiça que te deparavas. Enervaste-te de um jeito incrível e decidiste morder-lhe a perna, de tal forma que, ainda hoje tem a marca.
Outra história engraçada e muito característica do teu carácter... jogavas futebol 11 nos iniciados do Merelinense. Num jogo ficaste com o olho negro, porque resolveste cabecear a bola quase ao nível do chão. Um dos rapazes da equipa contrária disputou a bola contigo. Tu acertaste na bola e ele acertou-te na cara. Como sabias que eu não suportava a brutalidade e violência que se podia tornar um jogo de futebol com os rapazes, evitaste cruzar-te comigo o dia todo, com receio que te proibisse de jogar. O que tu não fazias pela bola...
Mélissa: Para terminar, quais são os teus desejos e perspectivas para o meu futuro pessoal e desportivo?
Mãe: O maior desejo de uma mãe é ver os filhos com o sorriso no rosto. A felicidade é, sem dúvida, o maior dos meus desejos para ti. Na sequência disto espero que termines o teu curso e te tornes uma excelente profissional. Seja longe ou perto de mim, estarei sempre contigo. A nível desportivo não perspectivo nada de especial para o teu futuro. Apenas que te divirtas a jogar e conheças pessoas que te façam bem.