ENTREVISTA A MÓNICA JORGE

Para iniciar o meu conjunto de entrevistas optei por Mónica Jorge, visto ser uma das maiores referências do futebol feminino em Portugal.
Mónica Jorge é a seleccionadora nacional de futebol feminino desde 2007. Apesar de jovem, começou por ser Treinadora Assistente da Federação Portuguesa de Futebol, responsável pela coadjuvação das selecções nacionais femininas, na época de 2000/2001.

Actualmente é a única mulher, no nosso país, portadora do nível IV do Curso de Treinadores da UEFA Professional.
Coloquei-lhe o desafio de ser a minha primeira entrevistada, que acedeu desde logo, com a simpatia que lhe é característica.

Mónica Jorge na primeira pessoa...

Mélissa: Depois de vários anos a trabalhar nas selecções femininas, como tem sido a experiência enquanto seleccionadora nacional?
MJ - Tem sido um experiência muito boa, enriquecedora e um desafio constante, quer como treinadora quer como “gestora” de um grupo de trabalho.

Mélissa: Sente-se a grande embaixadora do futebol feminino?
MJ - Não me sinto como a “GRANDE” embaixadora, mas sinto que já sou, de alguma forma, uma referência e que posso ajudar o futebol feminino com isso, assim como algumas jogadoras e treinadoras também o são e têm o dever de contribuir positivamente para a “imagem” e para a “identidade” do futebol feminino em Portugal.

Mélissa: Muito se tem falado do futebol feminino e do futuro da modalidade em Portugal. Melhor que ninguém conhece o estado actual das coisas. Quer falar-nos do assunto?
MJ - O futuro do futebol feminino está agora a ser “desenhado” no Presente, para a médio e a longo prazo poder crescer e ter bases de sustentação. Não é algo que se possa fazer num espaço de tempo curto, irá demora o seu tempo; tempo a mudar ideias, tempo a mudar espaços, tempo a mudar mentalidades.
“Com organização e tempo, acha-se o segredo de fazer tudo e bem feito” (Pitágoras).
O futebol feminino em Portugal tem uma enorme margem de progressão, pois como ainda está no seu estado mais sensível, qualquer que seja o estímulo a impor-lhe, a sua resposta de crescimento será sempre positiva e gradual.
Portugal tem uma enorme dedicação e paixão pelo futebol, e é essa paixão que num número de praticantes tão reduzido (comparando com as grandes potencias) “cria” jogadoras com qualidades técnicas fantásticas e únicas. Temos de aproveitar esta “Paixão Única”, que poucos países têm.

Mélissa: O futebol feminino é a sua grande paixão?
MJ - O futebol em geral é uma das paixões que tenho, seja ele feminino ou masculino, é uma modalidade que admiro bastante e me faz vibrar imenso. Mas tenho outras paixões, felizmente não vivo “fechada e limitada” a um só objectivo ou só a uma causa. Como seres humanos, devemos experienciar e nos dedicar a variadas actividades e “paixões”, até por enriquecimento pessoal e para evolução da nossa personalidade, do nosso EU. Como Albert Einstein dizia “a mente que se abre a uma nova ideia jamais voltará ao seu tamanho original”.

Mélissa: Como é ser a única mulher em Portugal com o nível IV do Curso de Treinadores da UEFA Professional?
MJ - Não vou dizer que é normal, porque estaria a mentir, é e foi muito bom a conclusão deste curso a nível pessoal e profissional. Embora não ache que seja assim tão especial tal feito, qualquer treinadora/jogadora que o ambicione tirar deverá fazê-lo e trabalhar para isso. Sinto que fui a primeira e assumi claramente a responsabilidade de ser uma referência para que outras possam seguir o meu exemplo.

Mélissa: Já alguma vez pensou ser treinadora de uma equipa masculina, por exemplo, da 1.ª liga?
MJ - Pensar, pensei… mas todos nós temos pensamentos surreais (risos).
Nunca foi um objectivo meu e acredito este caso seria muito difícil acontecer em Portugal, mas se um dia aparecer um convite, irei ponderá-lo de certeza.

Mélissa: Falando a nível de selecções… A selecção sub-19 conhece já os seus adversários para a 2.ª fase de qualificação para o Campeonato da Europa. Perante selecções como a França, Azerbeijão e País de Gales, certamente Portugal tem uma palavra a dizer. Quer comentar?
MJ - Normalmente na 2.ª fase de qualificação, o apuramento para a Fase Final não é fácil, visto também ser limitativo o número de equipas apuradas (o 1.º lugar e o melhor 2.º entre todos os grupos), no entanto tudo é possível. Provavelmente muita gente não acreditava no nosso apuramento na 1.ª fase frente à Noruega (vice campeã Europeia U-19) e superamos esse desafio muitíssimo bem e com uma grande força de vontade - superamos tudo e todos.
Como os maiores desafios são sempre os mais estimulantes, se trabalharmos bem, com auto confiança, com empenho no treino e no jogo e com uma grande união e espírito de grupo, tudo poderá ser possível, porque é no meio da dificuldade que se encontra a oportunidade. Ela estará sempre lá.

Mélissa: Como jogadora já tive o privilégio de trabalhar várias vezes e conhecer a treinadora Mónica Jorge e todo o seu profissionalismo. Não podia deixar de lhe perguntar como é a nossa seleccionadora extra-futebol?
MJ - Sou uma rapariga como tantas outras, com defeitos e virtudes, às vezes como tu, às vezes como a tua mãe ou como a tua treinadora. Tenho os meus dias para rir, dias para sonhar, dias para chorar, dias para me zangar, dias para amar, dias para ser chata, sou uma mulher a 100% e gosto muito de o ser.
Sou feliz junto dos meus familiares e de quem gosto muito.
Adoro desporto, adoro animais, adoro viajar, adoro cinema, adoro as artes do espectáculo, adoro cantar, adoro sorrir…, enfim adoro “VIVER”!

Mélissa: Sendo eu jogadora de futsal, sou várias vezes convocada para as selecções de futebol. Entristece-me ver alguns comentários acerca da convocação de atletas de futsal, porque sempre respeitou a minha opção pelo futsal e porque sinto um orgulho muito grande em representar o meu país. Que sente ao ler e ouvir esses comentários?
MJ - Os treinadores e as jogadoras que comigo trabalham e colaboram, sabem bem como os respeito e a gratidão que lhes tenho, e isso é bem mais importante que “os restos”.
Sinceramente não ligo nem dou importância a esse tipo de falsos comentários, pois felizmente a minha vida tem mais riqueza interior, de trabalho e de ideias, do que perder tempo nessas coisas. Mas acho que esta frase diz tudo: “Quem comete uma injustiça é sempre mais infeliz que o injustiçado” (Platão) e eu, graças a Deus, sou muito feliz (risos).

Mélissa: Agora um outro desafio… visto que sou eu que a entrevisto e este é o meu espaço de partilha, gostaria de lhe pedir que falasse sobre mim…
MJ -
M otivação - tem uma auto motivação enorme
E special - é um especial talento a jogar à bola
L utadora - luta até à última gota de suor
I nteligente - na avaliação que faz da vida e das pessoas
S olidária - com todos os que lhe merecem respeito
S egura - pessoa muito segura de si e com grande auto-estima
A paixonada - em tudo quando que se entrega de alma e coração

A Mélissa é assim… uma menina-mulher que está a crescer e aprender com as próprias dificuldades que a vida lhe impõe! Vai “escrevendo” a sua história na linha da vida, que aceita e enfrenta com uma personalidade forte e de grande coragem, mas invisivelmente muito sensível! Esta é a Mélissa que eu conheço, a Mel das nossas selecções femininas.

Mélissa: Para terminar, quer deixar alguma mensagem a todos os que vibram com o futebol feminino?
MJ - Desde já um OBRIGADO sincero a todos os treinadores e a todas as jogadoras de Futebol e Futsal que connosco trabalharam e que ainda colaboram, pois boa parte e fruto do nosso trabalho depende da vontade e da luta diária deles nos seus clubes. Que nunca desistam de acreditar no que se dedicam, de apostar na vossa formação técnica e pessoal, e que todos juntos poderemos caminhar e contribuir para uma evolução positiva do desporto feminino em Portugal, neste caso quer no Futsal quer no Futebol Feminino português.
Um bem-haja a todos e aproveitando agora que o Natal se aproxima… um FELIZ NATAL e UM ANO CHEIO DE MUITOS SUCESSOS DESPORTIVOS é o que lhes desejo do fundo do coração.